Projeção traz atualização com base no aperfeiçoamento das informações de registros de câncer brasileiros e segue metodologia usada mundialmente

No dia 4 de fevereiro, na sede do Instituto Nacional de Câncer (INCA), no Centro do Rio de Janeiro, foram lançadas as estimativas de casos novos da doença, durante cerimônia que celebra a campanha do Dia Mundial do Câncer. A novidade com a publicação Estimativa de Incidência de Câncer no Brasil é que ela será válida como projeção para três anos (2020-2022). Esta opção é justificada pela disponibilidade de informações mais confiáveis, obtidas dos registros de incidência e mortalidade. Com isto, também foi possível estimar os casos novos de câncer infantojuvenil por estados, o que é uma importante informação contida nas estimativas. A projeção é que para cada ano ocorram, no total, aproximadamente 625 mil casos novos de câncer (450 mil, sem considerar os casos de câncer de pele não melanoma).

De acordo com a publicação, os casos de câncer infantojuvenil esperados para o Brasil para cada ano do triênio serão 8.460, sendo 4.310 para o sexo masculino e 4.150 para o sexo feminino. É possível apontar ainda que o risco de câncer infantojuvenil será maior na Região Sul, seguido pelas Regiões Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte. A inclusão dos números de câncer infantojuvenil por estado é um avanço importante, explica Ana Cristina Pinho, diretora-geral do INCA. “Essa evolução pode auxiliar no aprimoramento das ações de saúde pública e controle da doença neste público específico”, destaca Ana. Atualmente, é possível afirmar que em torno de 80% das crianças e adolescentes acometidos pelo câncer podem ser curados, se diagnosticados precocemente e tratados em centros especializados.

Segundo a Tecnologista do INCA Marceli Santos, que está à frente das análises, é possível identificar uma significativa melhora tanto na qualidade das informações dos registros de câncer, quanto na ampliação da série histórica disponível sobre o tema. “Isso possibilitou a incorporação de modelos estatísticos mais sofisticados para a elaboração da estimativa, resultando em uma análise mais aprimorada da realidade. Em alguns casos, como no do câncer infantojuvenil, fazíamos a projeção baseada num índice global, no entanto, agora podemos utilizar as informações dos registros de câncer como alicerce para trabalharmos com uma informação mais qualificada, para o cálculo da estimativa por estado”, destaca ela.

A publicação mostra que no Brasil o câncer de pele não melanoma permanece como o mais incidente na população (177 mil casos novos), seguido pelos cânceres de mama e próstata (66 mil cada), cólon e reto (41 mil), traqueia, brônquio e pulmão (30 mil) e estômago (21 mil). A estimativa mundial do ano de 2018 apontou que ocorreram no mundo 18 milhões de casos novos de câncer (17 milhões sem contar os casos de câncer de pele não melanoma) e 9,6 milhões de óbitos (9,5 milhões excluindo os cânceres de pele não melanoma). O câncer de pulmão é o mais incidente no mundo (2,1 milhões) seguido pelo câncer de mama (cerca de 2,1 milhões), cólon e reto (1,8 milhão) e próstata (1,3 milhão).

Ainda que já se observe no país um declínio dos tipos de câncer associados a condições socioeconômicas desfavoráveis, em algumas regiões do Brasil, este perfil persiste. É o caso do câncer de colo de útero que aparece em destaque na Região Norte do país. Enquanto no Brasil este tipo da doença está em terceiro lugar na incidência entre mulheres (excetuando-se os casos de câncer de pele não melanoma), na Região Norte ele se destaca como o segundo mais incidente no gênero, atrás apenas do câncer de mama.

O INCA ressalta que aproximadamente um terço dos casos novos poderiam ser evitados pela redução ou mesmo a eliminação de fatores de risco ambientais e os relacionados a hábitos de vida. “É importante tratar a dependência do tabaco. O tabagismo é um fator determinante para o câncer. Também é recomendável controlar o peso corporal, já que a obesidade está relacionada ao surgimento da doença. Além disso, preferir a ingestão de alimentos frescos como frutas, vegetais e hortaliças, evitar os ultraprocessados e a excessiva exposição ao sol. A atividade física é outra aliada na prevenção. Ações do cotidiano podem aumentar nossa longevidade e prevenir a ocorrência do câncer”, frisa Ana Cristina Pinho, diretora-geral do Instituto.

A metodologia utilizada para calcular a estimativa
A publicação do INCA é de natureza descritiva e utiliza como base as recomendações internacionais que são referência para este tipo de análise, agregadas à experiência técnica da equipe do Instituto. Foram utilizadas as bases de dados de 27 Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP), que agregam a informação contida em 321 Registros Hospitalares de Câncer (RHC) e, uma série histórica de 38 anos de informações sobre a mortalidade pela doença. Foram considerados 19 tipos de câncer na realização destas análises. “É importante destacar que como em toda projeção, a Estimativa para o triênio 2020-2022 não deve ser comparada com anos anteriores, uma vez que novas bases de dados de incidência e mortalidade foram incorporadas. Especialmente nesta publicação, onde houve mudanças na metodologia e melhoria da qualidade das informações ao longo do tempo”, destaca Marceli.

A metodologia aplicada nesta publicação está alinhada com a utilizada para o cálculo das estimativas mundiais de incidência e mortalidade por câncer (Globocan) e foi desenvolvida com base em modelos para previsões de curto prazo (até cinco anos) ou pela utilização da razão de incidência/mortalidade (I/M). O Globocan compõe o Observatório Global de Câncer, desenvolvido pela Agência Internacional para Pesquisa sobre Câncer (Iarc/OMS). “Nesta publicação podemos evidenciar de forma mais contundente, o processo de amadurecimento e qualificação dos Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP), oferecendo aos gestores o insumo necessário para a vigilância do câncer, que representa um meio para o aprimoramento das ações de controle da doença no Brasil”, destaca Marise Rebello, chefe da Divisão de Vigilância e Análise de Situação da Coordenação de Prevenção e Vigilância do INCA.

Fonte: INCA (Instituto Nacional do Câncer)